por Giovanni Perlati
publicada originalmente na Revista Ethos, de Barra Bonita
Eles surgiram na década de 1940 se tornaram uma coqueluche nos
anos 70 e 80, fizeram a trilha sonora dos bailes de garagem, uniram muita gente
nas discotecas, mas com os avanços da tecnologia, logo foram substituídos. Os
Long Plays (LP’s), popularmente conhecidos como discos de vinil, assistiram das
prateleiras dos cebos e depósitos, o surgimento e evolução das mídias como a
fita K7, o Compact Disc (CD) e mais recentemente a Mp3.
Já faz algum tempo. Nossos olhares atentos ao mundo virtual
e digital nem reconhecem mais o chiado e o barulho de quando a ultima faixa
terima e está na hora de virar o disco. Alías foi isso que a indústria
fonográfica fez, virou e esqueceu o LP. E quem diria que em meio à era da mídia
invisível, da música à venda no Itunes e do acesso facilitado pela internet, o
velho bolachão preto ainda faz os olhos e os ouvidos de muita gente brilhar por
aí. Tanto é verdade, que os aficionados por LP’s estão ressurgindo e aos poucos
formam um mercado de compra, venda e troca para compor seu acervo.
A paixão pelos vinis, desde criança, transformou o autônomo Everton
Luiz da Silva Barbarossa, 31 anos, em uma espécie de referência no assunto na
cidade de Jaú. Com aproximadamente 1500 discos em sua coleção, o gosto pela
velha mídia foi herança de seu pai. A facilidade de comunicação proporcionada
pela internet e a busca por novos exemplares fez com ele expandisse seus
contatos e para manter esse acervo ele negocia com pessoas de várias partes do
país.
“Desde pequeno, meu pai e meu tio sempre escutavam e eu
aprendi a gostar também. Eu vivi muito à fase dos CD’s, vi o vinil ‘quase
morrer’ e ressurgir. Ai um dia me deu uns ‘cinco minutos’ e resolvi ir
atrás de um aparelho e comecei a ‘caçar’ novamente os discos,” afirma
Barbarossa. A maioria dos negócios feitos por ele, têm os contatos iniciados em
um grupo fechado no Facebook. O grupo Vinil Vintage, foi feito especialmente
para comprar, vender e trocar discos de vinil e atualmente tem 120 membros.
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José Benaelso Sobral - Foto: arquivo pessoal/facebook |
Foi em 1967, quando o técnico judiciário José Benaelso
Sobral, 60 anos, adquiriu o seu primeiro compacto de vinil. Fã de Beatles, como
todo jovem da época, o item tem um valor especial mesmo que com apenas duas músicas:
Please Please Me e From Me To You. O item raro ainda compõe o seu acervo, onde
já existem 1300 discos dos gêneros mais variados. Destes exemplares, pelo menos
300 ele reserva para negociar com outros colecionadores.
Hoje, 46 anos após o primeiro bolachão, Sobral é taxativo ao
afirmar porque prefere o LP às outras mídias mais recentes. “O som do CD não
tem peso, a arte gráfica do vinil é incomparável. São verdadeiras obras de
arte. Toda a magia, energia e graves somem no CD. O som do vinil é muito mais
encorpado e mais próximo do som imaginado pelo artista, além do mais o ser
humano é analógico e não digital (leia Analógico x Digital),” justifica o
colecionador.
Feirinha
O número de colecionadores em Jaú tem crescido tanto, que
eles mesmo têm se mobilizado para promover a prática. Nos meses de julho e
agosto de 2013, a feira Venda e Troca de Vinil, foi realizada por outro grupo local do
Facebook. O grupo Eu Gosto é de Vinil, com 411 membros, reúne não só
colecionadores, mas todo tipo de gente que tem algo a compartilhar sobre o
assunto. A feirinha reúne os apaixonados em um bar local, com som ao vivo os
interessados pagam um ingresso simbólico ou um quilo de alimento não perecível,
levam seus discos para troca ou venda e aproveitam para conhecer e socializar
com os amigos virtuais.
Arte além da música
É consenso entre os colecionadores. O rock and roll foi o
maior responsável pela paixão destes aficionados por discos. A indústria
fonográfica da época sempre trabalhou com os artistas Pop, aqui no Brasil com a
música Sertaneja, Pagode, a popular música romântica conhecida como brega e até
as bandas do tímido rock nacional. Porém é impossível falar sobre discos de
vinil sem citar as grandes obras do rock internacional com artistas como Elvis,
Beatles e Rolling Stones.
“Eu sou bem eclético, mas dos meus discos 70% são de rock e
uns 30% de outros gêneros”, afirma o representante comercial, Veimar Alexandre
Franzini, 41 anos. Em seu acervo de 346 discos, o álbum Metamorphon dos Rolling
Stones é o favorito. “O curioso desse disco é que foi feito com sobras
(composições) de estúdio na época em que os Stones estavam trocando de
gravadora para lançarem seu próprio selo. Para mim é um dos trabalhos mais
criativos da banda.”
A história do rock e do Long Play se confundem neste caminho
musical, principalmente no período que marca o final da década de 1960 até
meados de 1990, quando o CD foi popularizado. A embalagem gráfica ilustrada era
um dos diferenciais, pois fazia com que a obra fosse composta não só pelos
artistas músicos, mas também pelas artes nas capas e encartes. Alguns destes
álbuns são inesquecíveis não só pela sua música, mas por causa do apelo
emblemático na ilustração ou na foto impressa.
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The Dark Side of The Moon - Pink Floyd |
Como o ser humano é acostumado a, nas entrelinhas, julgar o
livro pela capa, as obras feitas por ilustradores ou fotógrafos de forma
rudimentar era o que atraia os fãs para o consumo da música. Algumas destas
capas foram eternizadas pela crítica, pelos ouvintes e marcaram momentos do
rock, como o disco The Dark Side of The Moon da banda Pink Floyd, Alladin Sane
do cantor David Bowie, a polêmica capa do Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band
dos meninos de Liverpool e a tradicional faixa de pedestres do disco Abbey Road,
também dos Beatles, ou então, o bebê nu em uma piscina, retratado no disco
Nevermind, da extinta Nirvana.
Na visão dos colecionadores, o vinil possibilita o consumo
da música não só com os ouvidos, mas com os olhos e com a alma. “Acho que é um
lance mais sentimental“, afirma o autônomo Everton Luiz da Silva Barbarossa, 31
anos. O fato é que a cada vinil na estante, esses apaixonados por discos
sentem-se donos de uma riqueza artística incalculável e esquecida pela
modernidade, mas não menos valorizada por quem realmente sabe reconhecer a
qualidade destes trabalhos.
Analógico X Digital
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Parte do processo de fabricação do disco de vinil. |
Entre histórias, gostos, nostalgias e o som da agulha
acariciando o vinil. A cada rotação no toca discos, uma memória, uma lembrança,
ou apenas uma boa música para se ouvir. Afinal, que há de tão diferente entre o
LP e o CD? Será somente saudosismo exagerado ou realmente o som dos LP’s é
superior ao do CD. Os amantes do bolachão defendem com riqueza de detalhes as
vantagens em se consumir música na versão analógica.
“O som do vinil é mais próximo do real. As frequências são
mais reais, os graves são mais fortes e mais aveludados e os agudos são mais
doces no vinil e ainda tem a capa que é mais apresentável do que no CD”, afirma
o representante comercial, Veimar Alexandre Franzini, 41 anos. O chiado
característico da agulha percorrendo o disco e os traços sonoros parecem levar
a música o mais próximo possível das frequências percebidas pela audição
humana, enquanto no CD esses fatores podem ser facilmente prejudicados pela
tecnologia digital.
De qualquer forma é possível tirar uma importante reflexão
em torno desta comparação entre o analógico e o digital. Os discos de vinil não
são tão simples de serem pirateados em contrapartida ao CD, DVD e é claro da
distribuição desordenada de Mp3. Talvez uma possível solução para a infindável
crise na indústria fonográfica, porém não tão simples assim em função do custo
para se produzir esse tipo de mídia novamente.
Vanguarda
Ainda sim, é possível comprar tanto os toca discos, quanto
discos novos e usados. No Brasil existe a Polysom situada no Rio de Janeiro. A
fábrica de vinis foi uma das centenas a fecharem pela crise da indústria. Mas
com a volta da demanda pelos discos de vinil nos Estados Unidos e Europa, a
fábrica reabriu sob nova direção e hoje trabalha na confecção de versões
analógicas de vários artistas da atualidade.
Nomes como Nação Zumbi, Tom Zé, Marcelo D2, Pato Fú, João
Bosco, Iron Maiden, Daft Punk, entre outros, se mantém explorando este nicho de
mercado. Colocando nas prateleiras de livrarias e lojas especializadas, suas
obras atuais na versão LP, e assim, contemplando os fãs assíduos pelo bom e
velho disco de vinil.
Fotos: não foram as mesmas publicadas na Revista Ethos originalmente em 2013, foram retiradas de arquivos pessoais e imagens do google, apenas para ilustração.
Fotos: não foram as mesmas publicadas na Revista Ethos originalmente em 2013, foram retiradas de arquivos pessoais e imagens do google, apenas para ilustração.
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